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O teatro desonesto da alegoria-homem

  • Foto do escritor: Phirtia Silva
    Phirtia Silva
  • 3 de abr.
  • 2 min de leitura


A pessoa mais desonesta é aquela que acredita na própria mentira; aquela que escolhe que o desejo de ser real é mais importante do que a verdade. Me defronto com essa desonestidade com mais frequência do que gostaria, sobretudo ao me relacionar com homens cis. 


A grande questão é que a gente vive em um mundo em que as mulheres já não sustentam mais "homens como antigamente", então, a estratégia de poder reelaborada deles é criar a alegoria-homem: um personagem adaptado de homem ou um representação do Homem - dois lados da mesma moeda. Para usar um exemplo: quantas de nós já fomos inundadas de linguagem afetiva em relações românticas e de uma hora para outra descobrimos que nada daquilo era verdade? Uma desonestidade que além de antiética é covarde. Eles não sabem amar mulheres, então criam o personagem do homem afetuoso. Óbvio que sustentar este personagem não pode durar tanto tempo, então a estratégia é pular de relação em relação para tentar manter o ego frágil intacto, o verdadeiro eu bem escondido e confortado pelas lógicas patriarcais. 


Há poucos meses, escrevi outro texto sobre isso: "Se os homens aprendessem a chorar", onde exploro exatamente o lugar perigoso onde se encontra o homem frustrado, visto que a "frustração é coisa de mulher". Penso que, no fundo, eles estão absolutamente frustrados com o mundo que estamos criando; com quem eles estão sendo pressionados a se tornar: "Estar triste e angustiado, é mostrar que o mundo patriarcal está em ruínas; é colocar-se em uma posição de fragilidade; é descer do pedestal da masculinidade para viver um pouco do que é ser mulher". E na luta incessante de salvar os próprios egos, tornam-se profundamente covardes, seja através de violências explícitas, como no caso do texto que mencionei, ou através de violências implícitas, como é o caso da manipulação emocional - ambas igualmente cruéis. 


Aquele texto, eu escrevi para os homens (o único, inclusive). Nele, apelei para que desarmassem a bomba relógio da alegoria-homem. Já este texto, e todos os outros, falo para as mulheres: nós somos enganadas porque acreditamos que o mundo pode ser diferente. Colocamos a nossa energia em transformá-lo, somos as cuidadoras dele; nos colocamos de corpo e alma, corajosas como somos. Estamos, cada vez mais, descobrindo o benefício de fazer bando com outras mulheres e pessoas não-homens, construir coletividades afetivas, éticas e seguras. 


Diante de tudo isso, me parece que a crise da alegoria-homem é uma grande vitória da luta antipatriarcal. O mundo deles já está em destruição e os que resistem estão fadados ao vazio existencial, enquanto nós construímos um novo mundo.


Fiquem em paz e sigam firmes e juntas. No final das contas, "eles passarão, nós passarinho"¹.


¹ Frase de Mario Quintana


Autora: Phirtia Silva


 
 
 

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