AS ações valem mais do que o amor
- Phirtia Silva
- 8 de mai.
- 2 min de leitura

Nos últimos anos, venho entendendo que as ações valem mais do que o amor: a ação de ir trabalhar para oferecer bons momentos a quem amamos; a ação de não falar de maneira agressiva ou desatenta; a ação de aprender novos caminhos para lidar com as diferenças; a ação de pensar na segurança do outro. Ações pequenas ou grandes são igualmente importantes. Alguns até dizem que estas são, por si só, "O amor". Eu particularmente discordo. Amo pessoas de quem escolhi não estar perto, por exemplo. O amor está ali, dentro de mim, mas escolho não realizá-lo no mundo.
Claro que as escolhas não são apenas fruto do nosso livre-arbítrio. Elas são produto da nossa infância, das nossas condições socioeconômicas, até da nossa biologia ou saúde mental. Ou seja: o amor é escolhido em um contexto, e os contextos também podem ser influenciados pelas ações. Quando nos movimentamos, movimentamos estes contextos e potencializamos o nosso poder de escolha, incluindo o poder de escolher um amor realizável.
O ideal é que a escolha pelo amor aconteça antes mesmo do encontro com a pessoa amada. Um processo intenso de preparação do contexto e execução de ações que podem permitir ao amor ser, também, materialidade. A ação de aprender a se amar, a ação de aprender a ter coragem, a ação de aprender a cuidar e ser cuidado, a ação de colocar limite, a ação de ter autonomia, a ação de saber se responsabilizar pela própria felicidade, a ação de se deixar chorar, a ação de cultivar diferentes tipos de desejos e fruições: todas tecelagens amorosas, boas-vindas ao amor.
No entanto, para que duas ou mais pessoas tornem o amor realizável entre si, é necessário que algum trabalho prévio já tenha sido executado por ambas ou que elas tenham bastante energia para realizar este trabalho juntas - o que pode ser um grande desafio, porque alguns trabalhos emocionais requerem solitude. Então, às vezes, a gente encontra o amor, mas não encontra as ações ou o trabalho emocional do(s) outro(s), e acabamos por gerar um amor não realizável, um amor sem senso de futuro. Aquele que ficará lá, pairando em inações, omissões, medos e "se's".
Quando nos defrontamos com essa situação, o ideal, penso eu, é balançar os quadris, mover os pés, a cabeça, piscar os olhos e bater as mãos. É saber que estar vivo é movimentar-se e que o movimento é um prelúdio do que pode ser chamado de consubstanciação - a união entre o ideal e o real, o espiritual e o concreto. O amor realizável é etéreo e corpóreo: sai pela boca, toca pelas mãos, corre pelos pés, deságua pelos poros. É apenas no cair da noite, após uma dança cansativa e abundante, que o amor realizável finalmente poderá descansar.
Autora: Phirtia Silva
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